O PERCURSO
O PERCURSO
Em 2007/2008, numa confluência de ideias e ideais, nasceu a Orquestra Geração, resultado de um desafio do Dr. Jorge Miranda, da Câmara Municipal da Amadora, ao Dr. António Wagner Diniz, presidente do Conselho de Gestão do Conservatório Nacional, e com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, na pessoa da engenheira Luísa Valle. Inspirado no modelo venezuelano El Sistema, o projeto foi desenhado para responder a desafios sociais prementes em Portugal: abandono escolar, exclusão social econtextos familiares desfavorecidos.
O projeto foi para o terreno em 2007/2008, e o bairro do Casal da Boba, na Amadora, foi o ponto de partida. Aqui, a música tornou-se mais do que uma disciplina; tornou-se um caminho. Crianças e jovens de contextos sociais vulneráveis encontraram nas notas musicais uma forma de expressar emoções, redescobrir a autoestima e construir sonhos coletivos. Este projeto visava muito mais do que a aprendizagem de um instrumento – era uma intervenção social que promovia a integração, o respeito mútuo e a cooperação.
Desde os primeiros ensaios, a Orquestra Geração mostrou que tinha potencial para ir além. Em pouco tempo, estendeu-se a outros contextos educativos. Ainda no ano letivo de 2007/2008, chegou ao concelho de Vila Franca de Xira, através do agrupamento de escolas de Vialonga. Em 2008, alargou-se ao bairro do Casal da Mira, também na Amadora, marcando o início de um percurso de crescimento sustentado.
A metodologia rigorosa inspirada no El Sistema combinava prática intensiva de orquestra com um enfoque na formação de professores e na captação de parceiros financeiros. Este modelo atraiu o interesse de municípios e organizações que viam na Orquestra Geração uma ferramenta eficaz de transformação social.
O reconhecimento público não tardou. Em 2010, o projeto recebeu o Prémio Nacional de Professores (Inovação), uma distinção que consolidou a sua posição como referência na área da intervenção social através da educação musical.
Em 2013 e 2014, foi destacada pela União Europeia como um dos melhores projetos de intervenção social da Europa, confirmando o seu impacto na vida de jovens e comunidades inteiras.
Em 2017, recebeu uma Menção Honrosa da Fundação Manuel António da Mota, e, em 2018, foi reconhecida pelo grupo AGEAS como a Melhor Empresa de Intervenção Social. Neste mesmo ano, a Assembleia da República concedeu-lhe a Medalha de Ouro comemorativa dos 50 anos da Declaração Universal dos Direitos da Humanidade, um símbolo do seu compromisso com a dignidade e os direitos fundamentais.
Com o apoio do programa POR LISBOA e de uma rede de parceiros, o projeto expandiu-se para cerca de 22 escolas na Área Metropolitana de Lisboa, Coimbra. Este crescimento foi sustentado por parcerias institucionais robustas. O Ministério da Educação passou a assegurar a contratação de professores, enquanto municípios e entidades privadas contribuíram para a aquisição de instrumentos e a realização de atividades.
No ano letivo de 2009/2010, a inclusão de aproximadamente 80 docentes na região metropolitana de Lisboa e Coimbra reforçou a estrutura pedagógica do projeto, alicerçando-o como um modelo replicável e escalável.
Através de apoio do FSE (Portugal Inovação Social), o projeto chegou a Tondela e Castanheira de Pera, em 2020 (Comunidades Geração) e continua em desenvolvimento com o apoio do Município de Castanheira de Pera, desde mais de 2023, terminado que foi o programa Portugal 2020.
Já com o Portugal 2023, o projeto iniciou um novo núcleo em Évora, com o FSE e o município.
A Orquestra Geração foi frequentemente chamada a participar em eventos de grande relevância política e cultural, tornando-se uma embaixadora dos valores de inclusão e cooperação. Entre as atuações marcantes, destacam-se:
As comemorações da entrada de Portugal na União Europeia;
O lançamento do programa de fundos estruturais Portugal 2020;
A final da Champions League em Lisboa;
A atribuição do Prémio Europa Nostra, na presença do Presidente da República e dos Reis de Espanha;
Concerto na abertura solene das Comemorações do 25 de Abril, em 2023, tendo a Orquestra Geração interpretado, entre outras obras, o Hino "Governo do Povo" de Bruno Pernadas.
Com Dino d' Santiago, no concerto realizado nos 50 anos do 25 de abril, em Almada, entre outros.
Estes momentos não foram apenas demonstrações de talento musical, mas também de como a música pode unir diferentes mundos e realidades e contribuir para um mundo melhor.
Desde o início, a equipa de professores, coordenadores e voluntários foi o coração pulsante da Orquestra Geração. Mais do que ensinar música, dedicaram-se a compreender os desafios sociais e emocionais enfrentados pelos jovens e as suas famílias, oferecendo apoio que ia muito além das aulas. A sua abordagem holística permitiu criar um ambiente seguro e acolhedor, onde cada criança era valorizada pelo seu potencial único.
Entre os esforços mais significativos da equipa estão:
A formação personalizada de mais de 80 docentes, que hoje trabalham em cerca de 22 escolas;
A criação de estratégias inovadoras para integrar alunos em risco de abandono escolar;
A articulação com as famílias, motivando a participação ativa no processo educativo e na construção de laços duradouros.
O trabalho da equipa não se limita ao ensino técnico. Cada nota tocada é resultado de uma conexão profunda entre professores e alunos, uma sinergia que reflete o empenho coletivo para transformar desafios em oportunidades.
A história da Orquestra Geração não é apenas sobre os alunos, mas também sobre os professores, gestores e parceiros que dedicam diariamente o seu talento, energia e paixão para que o projeto continue a florescer. É uma história que demonstra como uma equipa comprometida pode transformar sonhos em realidade e como a música pode ser um poderoso instrumento de mudança social.
Atualmente, o projeto envolve cerca de 1700 crianças e jovens, com idades entre 3 e 20 anos, distribuídos pelo programa para o jardim de infância (a Orquestra de Afectos), por orquestras sinfónicas, de cordas, sopros, municipais e jazz.
Coordenado pedagogicamente pela Escola Artística de Música do Conservatório Nacional, a Orquestra Geração mantém um compromisso firme com a formação integral dos seus participantes.
O futuro vislumbra-se com ambição: a ampliação a mais escolas, o reforço da presença em contextos internacionais, sobretudo junto dos PALOP, e a continuação de parcerias estratégicas que assegurem a sustentabilidade do projeto.
A Orquestra Geração não é apenas um projeto musical; é uma peça fundamental na história contemporânea da inclusão social em Portugal. É um testemunho do que pode ser alcançado quando instituições, comunidades e indivíduos se unem em torno de um objetivo comum.
Cada apresentação pública é um testemunho vivo da capacidade da música de transformar não apenas indivíduos, mas também as comunidades a que pertencem. E assim, a Orquestra Geração continua a escrever a sua história – uma história de resiliência, compromisso e harmonia.
"A música tem de ser reconhecida como um agente de desenvolvimento social no sentido mais elevado, porque transmite 0s valores mais nobres - solidariedade, harmonia, compaixão mútua. e tem a capacidade de unir toda uma comunidade e de expressar sentimentos sublimes."
Jose Antonio Abreu (1939-2018)
Fundador do El Sistema, Venezuela